sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

'A força do evangelho nos faz iguais', diz pastor sobre preconceito


Pastor, formado em advocacia desde 1987, Hermes Pereira de Brito é vice-presidente da Igreja Adventista da Promessa.
Em entrevista exclusiva ao GUIA-ME, Hermes fala sobre o preconceito na Igreja e cotas raciais. "O preconceito é uma situação cultural, não tem como fugir", diz ele.
Guia-me: O senhor já sofreu algum preconceito na Igreja?
Hermes Pereira: O preconceito existe sim. É uma situação cultural, não tem como fugir. Existem pessoas que, inclusive por falta de conhecimento da Palavra de Deus, chegam a atribuir um sinal que Deus deu a um pecador lá de Gênesis, quando acontece o primeiro homicídio registrado na Bíblia, à pigmentação da pele, a ser negro, mas isso é uma crença mistificada. O que eu considero importante é saber que existe o preconceito. Ser diferente sempre nos impõe privilégios, em algumas situações, ou alguns constrangimentos.Penso que mais importante é entender que o evangelho nos faz iguais. Mesmo sendo negro eu não posso me esconder nisso para tentar me prevalecer.
Existe uma passagem na Bíblia que me deixa muito curioso, ela fala que Naamã era chefe do Rei do exército da Síria e termina com um adjetivo, diz: 'Porém, leproso', e isso me leva a crer que é um ensinamento para todo aquele que se acha preterido por uma questão de segregação. Em minha interpretação, Naamã se fazia de forte e prevalecia sobre seus liderados, mas diantede qualquer situação adversa ele pedia para terem dó dele por ser leproso. Deus criou a todos como quis, um é alto, outro é baixo, um é negro, outro claro, um tem olhos puxados, outro não, mas Glória a Deus, foi Ele quem nos fez e ninguém pode se esconder na sua condição. Nós somos todos iguais, isso que é importante.
Guia-me: Então, o preconceito também existe dentro da Igreja e está longe de ser tirado de lá?
Hermes Pereira: Na carta de Paulo aos Efésios, ele diz que Deus envia pessoas diferentes querendo aperfeiçoamento dos santos. É Ele quem dá dons e coloca pessoas diferentes em nosso meio para que o corpo de Cristo seja edificado, então ele conclui que é importante nos empenharmos nisso até que todos cheguemos ao pleno conhecimento de Cristo Jesus. Você vai encontrar gente na igreja que já tem o entendimento espiritual para saber que ele é igual a todos, mas vai encontrar gente que chegou hoje, ontem, ou alguém que está na igreja há muitos anos mas ainda não entrou no processo de santificação, ou parou no meio do caminho. Pior que quando pára o processo de santificação, a pessoa não fica no lugar, ela regride, e são essas pessoas que irão apontar dedos, arrumar confusão, criar partidos, alegar privilégios por cor, raça, sexo. Existem questões até hoje, do tipo: 'mulher não pode pregar', é uma descriminação, e quem faz isso são pessoas por quem Jesus morreu, mas ainda precisam entender a força do evangelho que nos faz iguais.
Guia-me: O senhor hoje ocupa um cargo importante na igreja e chegou onde está sem precisar de sistema de cotas. Acredita que sistema de cotas, para entrar onde quer que for, faculdade, emprego etc, é um tipo de discriminação?
Hermes Pereira: Entendo que sim e acho que é uma coisa muito séria, pois está se criando no Brasil um fortalecimento que vai para esse raciocínio, que me parece retrógrado. Hoje nós abrimos oportunidades para que negros tenham acesso à faculdade. Daqui a pouco precisaremos forçar as empresas a abrir espaço para que eles trabalhem, e lá na frente teremos discussões do tipo: 'você só está aqui porque eu cedi minha vaga', e a gente não precisa disso. Penso também que exista um problema muito grande de autoestimado negro, então porque é negro não quer estudar, não quer 'pegar no batente' para valer. Lógico que isso não é uma regra, mas muita gente se esconde e descansa nisso. Todos nós temos que levantar muito cedo, trabalhar, matar um leão ao dia, é necessidade, ninguém pode descansar em sua necessidade social, sua cor ou sua raça, todos precisam fazer sua parte.
As pessoas precisam entender e essa é uma conseqüência do evangelho também, que cada um tem que viver de acordo com o que pode. Nossa sociedade é absolutamente consumista, secularizada, e muitos dos próprios cristãos querem ter coisas, mas nós não precisamos ter, precisamos ser diante de Deus, que é muito mais importante. Penso que esse sistema de cotas esteja criando no Brasil um fosso que vai dividir ainda mais e abrir portas para outros problemas sérios, mas o poder público está interessado nisso, ele não se preocupa em nos fazer iguais, é melhor dar 51 reais de bolsa-família do que educar e fazer um planejamento familiar.
Por Juliana Simioni
Fonte: Guia-me
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